terça-feira, 31 de maio de 2011

A inauguração II


As crianças da Ilha de Atalaia

A professora Vanessa é muito participante e não mede esforços para que seus alunos possam participar de todos os eventos culturais da cidade. Estive visitando a escola Casemiro Luiz Gomes, da comunidade de pescadores da ilha de Atalaia e Vanessa me falou das dificuldades que enfrenta para conseguir que as famílias matriculem as crianças na escola. São apenas 12 crianças freqüentando a escola da ilha. As mães são na maioria marisqueiras e semi-analfabetas, não compreendendo a necessidade dos filhos receberem uma educação formal na escola, para terem chance de construir um futuro melhor, sem a dependência da atividade de extrativista nos manguezais .

Vanessa levou o grupinho de alunos  para assistirem a inauguração da exposição Portinari , Arte e Meio Ambiente. As crianças participaram das atividades de arte propostas junto à exposição, mas não sabiam da surpresa que preparamos para elas: “Tia” Solange trouxe com ela bichinhos de pelúcia que fizeram a alegria de sua filha Priscila, hoje uma jovem universitária, para distribuir entre as crianças.
A alegria dos pequeninos era visível nos seus rostinhos surpresos.



O “bauzinho do pintor”, patrocinado pela Queiroz Galvão, guarda um conjunto de materiais didáticos relacionados com as questões de preservação do meio ambiente, tendo como fio condutor algumas obras de Portinari, para serem usados nas escolas. Ao encerrar a inauguração as crianças recebem o bauzinho da sua escola e saem orgulhosas, caminhando até o barco que as trouxe e as levará de volta à Atalaia.



Mas, antes de entrar no barco propomos uma foto com todo o grupo. Solange, eu e Vanessa estamos junto com o grupinho e somos as maiores torcedoras deste “time”, que incentivado pela professora vencerá, no futuro, todos os campeonatos que a vida lhes oferecerá.


Essas crianças me fazem lembrar o diário da infância de Portinari, em que ele escreveu: “Num pé de café nasci...” , fazendo menção ao seu nascimento em uma fazenda de café, na região paulista de Brodowski. Eu poderia dizer para eles: “Próximo aos pés das árvores do manguezal vocês nasceram...”.

Portinari deixou sua cidade natal, trocando-a pela capital, na época o Rio de Janeiro, para realizar o seu sonho de ser artista. Quando eu observo esta foto do grupo de alunos da Escola Municipal Casemiro Luiz Gomes faço votos de que todos eles possam realizar seus sonhos - saindo para alçar vôo mais alto, estudando na cidade grande ou  permanecendo junto ao seu chão de origem, junto ao manguezal.

Portinari aos 5 anos
        











A criançada começa a embarcar no barco, de volta à comunidade.


E lá vai a “Tia”Vanessa, agarrada ao seu bauzinho, que não contém ouro nem diamantes, mas um tesouro maior – educação...



Canavieiras

A Inauguração
25 de maio é o aniversário da cidade.  A comemoração dos 120 anos da emancipação de Canavieiras foi na praça onde estamos realizando as nossas oficinas de arte, junto à exposição Portinari , Arte e Meio Ambiente, que está montada no foyer da Secretaria de Educação. Discursos, desfile cívico, com direito a bandas de música das escolas locais e da PM, marcaram o evento.


 O prefeito Zairo ,  a Secretária de Educação, profa. Genita,  e o Secretário de Cultura, Paulo Simão, abriram a exposição.




O Prefeito e a Secretária de Educação recebem os bauzinhos contendo material didático , patrocinado pela Queiroz Galvão Extração e Produção, que serão doados a todas as escolas públicas do município.






Rebeca Kiperman, da Queiroz Galvão, patrocinadora do Projeto “ Portinari para Todos” nos municípios de Ilhéus , Canavieira, Una e Belmonte, ofereceu  a cada um dos Secretários da Prefeitura um  exemplar do livro “ Brasil Atlântico” ,  edição especial patrocinada pela empresa.



As crianças tomam lugar nas mesas e trabalham conosco, desenhando, pintando, criando mosaicos, lendo, jogando.
E, junto à exposição, posam com a fita usada para a inauguração 

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Canavieiras


  1. O casario


Chegamos em Canavieiras no domingo, 22 de maio e já começamos a nos interessar pela história desta cidade tão antiga, cujas terras foram parte de uma das Capitanias Hereditárias e também importante região cacaueira.

O município tem sua origem na primeira década do século XVIII, quando portugueses e brasileiros, vindos de Ilhéus, à procura de terras férteis, estabeleceram-se em uma localidade conhecida por Poxim, onde ergueram uma capela e iniciaram a freguesia de Nossa Senhora do Poxim. Mais tarde souberam da existência de uma ilha próxima, com melhores condições do plantio de cana, e para lá se mudaram.

O cultivo da cana na propriedade dos Vieira, é o provável motivo do nome Canavieiras que recebeu foro de cidade em  1881.

 O Rio Pardo, a região beira-rio da cidade, parte do chamado Centro Histórico.



Iemanjá dá as boas vindas aos visitantes.

Em 1746, Antonio Dias Ribeiro plantou  as primeiras sementes de cacau nas margens do rio Pardo, na Fazenda Cubículo, cujo local hoje é lembrado com esta placa , mostrando o exato local em que a sede da fazenda ficava. A região era conhecida como a mais produtiva no cultivo do cacau até que a praga conhecida popularmente por “vassoura-de-bruxa” devastou as plantações , causando a grande crise, sentida até hoje na economia da região.


A arquitetura da cidade é muito peculiar, com um casario de cores vibrantes, fachadas decoradas com muitos ornatos, esculturas de gesso e grades de ferro batido. As casas são na sua maioria de frente de rua, estreitas, mas o interior é longo, geralmente com quintal plantado com árvores frutíferas.






As casas na beira-rio fazem parte do centro histórico da cidade e procuram manter a originalidade do séculoXIX. São uma galeria de arte popular, antiguidades e artesanato, restaurantes, pequena empresa de turismo e pesca fluvial.





Uma pracinha mal cuidada com coreto muito original, parecendo uma cesta. 


Em torno da pracinha, a casa mais bonita da cidade


Muito bonito o trabalho em ferro batido nas grades das portas e janelas das casas.
 


Despedida da praça









 21 de maio, meio dia, é chegada a hora de desmontar a exposição, juntar todos os objetos e materiais para guardar no caminhão e partirmos, no dia seguinte, para a próxima cidade do roteiro de “Portinari para Todos”- o município de Canavieiras.

Foram 1.020 estudantes das escolas locais, trazidos pelos professores; 172 visitantes espontâneos, num total de 1.192 pessoas, em apenas 12 dias de exposição.

Os expositores com as réplicas são embalados e levados para o caminhão.


Mesas desmontadas, banquetas empilhadas

Caixas empilhadas...


Os baners que indicavam a nossa presença na praça são retirados e cuidadosamente enrolados

O grande toldo que abrigou tanta gente, que causava surpresa aos passantes, que servia de ponto de parada dos ilhenses e troca de um dedo de prosa 



Está na hora de devolvermos a praça aos seus donos :
“Camilinho”, que ficou amigo da Solange; 


as fofoqueiras, que se reuniam para um dedo de prosa todas as tardes;


os meninos da rua: Afonso, Paulo e Maicon, que buscavam um abrigo para dormir;


Artur, que gosta de ser chamado de Shakira;

o engraxate, ex-aluno de uma  professoras que nos visitou trazendo a netinha e que trocou o seguinte diálogo com o engraxate:

Engraxate: -Professora, quer engraxar o sapato?
Professora :- Não! Você já estragou o meu sapato...
                      Como vai sua irmã?
Engraxate :- Ta grávida.
Professora : - E sua mãe?
Engraxate:- Ta doida.
Professora : - E o seu pai ?
Engraxate; - Morreu...

Parece até um “poema”surrealista !

Adeus povo amigo de São Jorge dos Ilhéus. Aí está a praça D.Eduardo, de volta a vocês ! Saravá!

terça-feira, 24 de maio de 2011

Os últimos dias na praça


O dia 18 foi um dos mais concorridos durante todo este tempo em que nos encontramos “na praça”. À tarde recebemos a visita dos alunos e alunas do Colégio da Polícia Militar R.Galvão.





Nesses últimos dias também tivemos a visita da turma do quinto ano  do Colégio Villa Verde, que realiza um trabalho bastante especial com turmas bem pequenas.
A profa. Vânia, de arte, conduzia o grupo e também participou da visita orientada e das atividades das oficinas.

Iniciamos contando a história da Tia Nota 10, para aquecer o grupo e homenagear a professora.



Mostrando os números à medida em que eu leio a história, até chegar à nota 10, que se transforma em 710 !


Proponho fazer “tatuagens” nos rostos das meninas em homenagem à natureza. Todas aprovam a idéia e logo estão posando para as fotos com florezinhas pintadas.










Dora Rolim, bastante desinibida, imita o menino plantando bananeira do quadro


E me apresenta ao seu pai, capoerista de Ilhéus, conhecido por Cabelo Rolim.



Este menininho lindo, chegou trazido pela tia e foi incorporado ao grupo do  VillaVerde.


“Tia”Solange dedicou-lhe uma atenção especial e Ícaro retribuiu com este sorriso.


No dia 19 não tivemos visitas de escolas, pois os ônibus estavam em greve, dificultando a chegada dos alunos nas escolas. Algumas crianças trazidas pelas mães trabalharam conosco.

 Artur, o jovem morador de rua que já estivera conosco uma tarde, voltou. Sentou-se na mesa de pintura com outro jovem que também fica nas redondezas da praça prestando pequenos serviços.
Algum tempo depois, duas adolescentes chegam e também iniciam a pintura na mesma mesa dos dois rapazes. Ficamos  atentas, em torno da mesa, para controlar o que os dois poderiam estar falando com as meninas, mas a conversa era ingênua e ficamos bastante surpresas com a aceitação dos rapazes pelas meninas.
Realmente todos tem espaço no toldo de “Portinari para Todos”.





Nosso último dia foi marcado por uma grande passeata de protesto e reivindicações dos professores universitários por melhores salários, melhores condições de trabalho, melhores instalações nos prédios das universidades.